Decidi falar a verdade

Hoje decidi contar toda a verdade. 
Sou mãe de uma adolescente de 15 anos e meio que não vejo nem oiço a sua voz às dois anos.
Engravidei aos 19 anos e fui mãe aos 20, confesso que não foi uma gravidez muito desejada, tinha uma vida pela frente cheia de sonhos que foram todos esquecidos no momento em que confirmei a minha gravidez. No entanto, amei a minha filha e aquele momento tão abençoado na minha vida. Lutei desde os 4 meses de gestação para que essa criança fosse amada e desejada a todo o momento e por todos, até mesmo quando fui internada por causa de uma anemia que me deixava cansada só de dar 4 passos. Desde essa altura que comecei a lutar pela minha vida e pela dela.
Fiz CTG no hospital para mostrar aos enfermeiros que estavam a aprender como seria fazer um CTG aos 4meses e meio de gestação, para surpresa de todos ouviu-se o coração da minha bebé. 
Duas semanas internada a fazer ferro de dois em dois dias mais corticosteróides porque eu estava com úlceras ativas, da doença de Crohn.
Nasceste no mês de outubro, prematura, bem pequenininha com muito cabelo, 44,5cm e 2,150kgs, a tua cabeça cabia às vontade na minha mão. Uma lutadora já tão pequenininha. Nem foste para a ecobadora. Começa a luta pela tua sobrevivência. Tinhas que mamar de duas em duas horas para tu aumentares de peso. O que eu não sabia é que um bebé que nasce com menos de 2,300kgs (mais ou menos) não tem força para chorar e cansasse muito rápido, então, eu tinha que estar a todo o momento a olhar para ti para ver se não te deixavas dormir, a segurar com uma mão e com a outra tinha que estar a mexer te a todo o momento para estares desperta. Começa a derradeira luta de ser mãe aqui.
O tempo foi passando e como doente de Crohn, a seguir a te ter tido tive uma crise que mal conseguia cuidar de ti e de mim, as cólicas eram horríveis. Já não te amamentava! Foste dormir para o quarto da tua avó porque o teu pai tinha que descansar e não podia tomar conta de ti. Foste-me retirada dos meus braços, do meu cuidado, achando que estavam a fazer o melhor por ti, até eu achei, mas estava totalmente enganada. Hoje vejo isso. Nos anos que se seguiram, não logo o primeiro porque esse eu tive a felicidade de estar em casa desempregada e acompanhar todo o teu crescimento, desde a primeira papa ao nascimento do primeiro dente à primeira sopa, do gatinhar ao andar, foi tudo comigo. Que saudades que eu tenho desse tempo. De te pegar ao colo e te encher de beijos. 
Mas foi a partir do teu ano, do teu primeiro aniversário, que eu voltei a trabalhar. Como o teu pai não queria que tu apanhasses as diferenças de temperatura, ficavas na tua avó, a 4 ou 5km, de estrada de terra, da nossa casa (já nem lembro bem a distância) até ao meu dia de folga dia em que eu te ia buscar. Uns podem dizer excesso de cuidado com a filha, outros irão perceber que fui impedida de estar com a minha filha, outros ainda vão dizer porque é que eu não a ia buscar e levar, simples, porque eu saia de casa às 6:30 da manhã e regressava às 18:30 mais ou menos a casa, enquanto que o pai saia de casa para ir para o monte onde morava os avós e onde este trabalhava com o pai dele às 7:30 e regressava às 17:30 a casa, na sua grande maioria do tempo. Não me estou a queixar é uma questão de gestão de tempo e vontade. 
Passei o ano e meio seguinte até ser despedida a lutar, a pedir que tu, minha filha, viesses para casa mas foi uma luta em vão nunca o consegui a não ser na véspera de minha folga. Foi assim, lutando e explicando e exemplificando com todos os outros pais que não têm onde deixar os filhos, que têm que os levar para uma cresche, por exemplo, que as crianças passam por todas aquelas intempéries do tempo e das salas, que quando um adoece, adoece a turma toda. E, isso, faz parte do crescimento deles, mas foi em vão nos 6 anos seguintes. Só ganhei que nos primeiros dias de aulas de cada ano fui eu que sempre te fui levar às escola e no teu aniversário, fui sempre à escolinha contar a historinha contigo sentada no meu colo. 
6 anos e meio se passaram num misto de luta, desejo, tristeza, mágoa, desilusão, porque até nesse tempo eu tive que lutar por um casamento no qual eu nunca fui feliz por tanto pedido de divórcio que cheguei ao ponto de perder a conta pelas vezes que foi pedido, por tanta traição. Até que chegou aquele dia em que fui convidada a sair a sair porque o teu pai provou do sabor daquilo que me fez passar durante anos. E durante anos fui avisada de ter amantes sem o ter até que um dia lhe satisfazer o pedido, e surgiu um amigo que me dava aquilo que eu não tinha em casa, reconhecimento, apoio e dedicação. E, por isso, fui convidada a sair de casa. Deixei tudo até a roupa de inverno, que só vi essa roupa porque a minha advogada da altura interveio e exigiu que me fosse dada a roupa. 
Nesse dia em que fui convidada a sair de casa, tive que fazer uma escolha, escolha essa que me levou a ter que te deixar com o teu pai, mas porque eu não tinha condições financeiras para cuidar de ti, minha filha, porque ou trabalhava para cuidar das duas ou deixaria o trabalho para cuidar de ti.
Ao que te foi dito que eu estava a deixar-te a ti, minha filha, e ao teu pai, por já não gostar dos dois. Isso é pura mentira. 
Faz dia 16 de junho deste ano 3 anos que não falo contigo, mas não te deixei de amar um só dia.
Nas semanas seguintes, mais uma luta se inicia. Começa a luta das visitas, que como mãe separada tenho direito a tempo de permanência a estar com a minha filha, até ao dia que sou internada no hospital. Levo um ano quase a recuperar e mal te via, pois foi uma fase muito critica para mim. No tempo maior de permanência no hospital, só te vi duas vezes e foi porque o teu padrinho te levou à minha hora de visita. A tua voz mal a ouvia. Nunca o teu pai ou os teus avós fizeram questão de te levar para me veres, com a desculpa que um ambiente hospitalar não é lugar para uma criança. Pergunto excesso de cuidado ou alienação? E foram assim os anos seguintes. Até mesmo quando fui a tribunal pedir ajuda para me ajudarem a estar contigo, chegou ao ponto de passar apenas 4h contigo num sábado em 1h, do nosso tempo, era passada a conduzir, depois para uma chamada dois dias na semana. Esta foi a ajuda que o tribunal de Santarém deu a uma mãe que aos 27 anos fica deficiente, e que tem que voltar para o local de trabalho onde não é aceite nem reconhecida por grande parte das chefias e dos colegas porque não desempenha as funções todas na loja e que os chefes nem querem aumentar a carga horária, sim o trabalho é a part-time, pelas mesmas razões; e, ainda, o tribunal vai retirando todas as formas de presença desta filha com esta mãe em vez de fomentar contribuindo para o afastamento em vez da aproximação. Não entendendo nem auxiliando a mãe, muito pelo contrário. 
Em acordo com o pai, não porque eu não quisesse pagar, eu e o meu advogado concordamos com o pai e a sua advogada que não me seria cobrada a pensão de alimentos porque o meu vencimento na altura mal chegava aos €400 e tinha as despesas iguais a todas as outras pessoas (TV+internet+telemóvel, luz, água, gás, renda da casa, alimentação e um carro) e o dinheiro mal chegava quanto mais ainda pagar uma pensão, friso não é que eu não queira pagar é porque humanamente é quase impossível. Nesse dia, foi acordado pelo tribunal a passar para uma chamada duas vezes na semana até ao dia 16 de junho de 2018, quando te ligo para combinar os dias que te ia buscar tu dizes que nem ao portão vens para me veres, que escusava de ir lá, e eu disse-te se assim é a tua escolha eu aceito mas lembra-te a história tem dois lados tal como a moeda, o lado de quem a vive e o lado de quem conta. Então, a seguir a ser agredida pela madrasta da minha filha, caso que foi a tribunal e ganhei uma indemnização de €665, foi pedido ao tribunal, pelo pai da minha filha, que me cobrasse as pensões todas em atraso €1750, ao que o tribunal nem me perguntou se eu tinha o dinheiro, mandou fazer a apreensão do meu ordenado diretamente.
Agora, estou de baixa desde o dia 30 de dezembro de 2020, apresento a baixa (porque estou mesmo doente com fístulas, fissuras e abcesso no lado esquerdo da minha virilha e zona perianal), e mais uma vez o tribunal vem em meu "auxílio" a pedir para eu ficar a sustentar-me com €211,99. 
E ainda dizem que abandonei a minha filha. Ainda dizem que te abandonei.
Será que te abandonei mesmo minha filha? Pensa. 
Esta é apenas um resumo da parte da minha história aqui contada. Não a história toda. 

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